DA SÉRIE QUE SACO SER MULHER II

Na crise dos 38 anos, talvez a da sua meia idade, vai que ela morra aos setenta e seis? Uma mulher, divorciada pela segunda vez, dois filhos, um de cada casamento, confronta o limite entre a loucura e a razão. Tênue linha aboletada entre o yin e o yang, o bem e o mal, ser gorda ou ser magra, namoradeira ou beata. Confronta até o seu nome composto, que parece conferir uma dupla personalidade, dupla, porém, xipofaga.
Sua segurança jovem pela cintura fina, começa a dar lugar a maturidade da gordura localizada.
Como um cão rodopiando atrás do próprio rabo, idéias rondam sua cabeça, tantas e tão desordenadas, que ela se sente como um peixe tentando a piracema em meio a uma pororoca.
Resolve desacelerar e analisar aquilo que mais a incomoda nos últimos tempos, de certo, a culpa! Moradora parasita de seu lado avesso, que vive soprando em seu ouvido, o que ela pode e não pode ser. Pois muito bem, vai livrar-se dela, abrir o guarda-roupa de suas idéias e jogar fora toda a bagunça.
Tempos nada fáceis esses de hoje, pensou, mergulhando os olhos na réplica de A Música, de Matisse, pendurada bem à sua frente, uma janela proposital para deixar escapar a atenção, onde admira as moças daquele sarau e a coragem daquelas mulheres de 1939, pensa em outras como Chiquinha Gonzaga (1847), Frida Kahlo (1907), Anita Garibaldi (1821). A que preço essas mulheres têm seus nomes lembrados e admirados, quer tanto admirar seu próprio nome como admira o daquelas mulheres... Laura Cristina (1970).