28.2.09

PORNOCRACIA.

Seus olhos guardam a tristeza do mundo, seu andar é cauteloso, têm dezesseis pulsações diferentes, e quase nunca incomoda, ou maltrata ninguém, só por que assim reparariam em sua meia calvície, e o suor em seu rosto, que não cessa nunca. É um bom observador por natureza, consegue dizer mais de dez palavras de efeito, sobre qualquer coisa, ou pessoa, só com o poder do olhar, mas quase nunca consegue dizer dez palavras pra si mesmo, se nega à conversar consigo mesmo.

Não se reconhece mais no espelho, porém, se considera a pessoa mais inteligente que conhece, apesar de nunca ter tirado bom proveito disso. Carrega na carteira a foto de uma jovem formosa das épocas de faculdade, e de vez em quando usa a aliança que o avô lhe deixou de herança- quer se sentir compromissado com a tal moça da foto pois sua beleza é sua maldição. Acha o amor uma tragédia, a tragédia que nunca lhe aconteceu, e que reza todos os dias para acontecer-lhe.

Cai em desespero, por ser inteligente o bastante pra saber o que sempre acontecerá em seguida, passos calculados, pensamentos calculados, a imprevisão lhe faz falta. Sôfrego, já não se alimenta mais direito. Sua saúde está abatida. Acha intoxicante estar perto de alguém tão vivo. Vive em um lugar onde, se o mundo faz algum sentido, ele o entendia menos do que nunca, vive pra lá do imaginável.

Pergunta-se todas as manhãs: será isso tudo? Precisa de alguém que o medique, e que depois prescreva uma dosagem maior. Sente que aquilo começou a tomar-te conta, e não há ninguém para culpar; insanidade torturante, um inferno asfixiante.

Lá se vai mais um pobre coitado, vítima inocente de seu próprio crime, a solidão...

Um comentário:

Tudo sobre copos e cinzeiros. disse...

ela é inerente a todo ser humano, e sinceramente?todos nós apesar de dizer o contrário, sempre buscamos ela.